quarta-feira, 18 de março de 2015

Moral e atualidade

Após muitos anos, resolvi publicar neste blog, pois o espaço nas redes sociais é muito pequeno para reflexões um pouco mais filosóficas. Assim fiz um esboço de um panfleto sobre a moral.
A questão moral sempre foi assunto da filosofia, porém,como marxista, parto do principio da construção social da moral. A moral é sim uma construção classista, sendo uma partícula da ideologia de nossa sociedade, logo, quando falamos de moral atualmente, falamos da moral burguesa.
A burguesia se construiu sobre o ataque ao moralismo medieval, ao mesmo tempo que ajudou a construir a moral protestante (puritanismo, etc.). As contradições são inerentes ao processo histórico.
Como reflexão divido a perspetiva moral de nossa sociedade entre as classes que a compõe.
Resumindo topicamente a posição da classes em relação a moral burguesa:
  • Alta Burguesia: Amoral
  • Pequena Burguesia: imoral
  • Classe Média (parcela do proletariado abastada, que se identifica mais com os princíos da ideologia burguesa): Falso moralismo
  • Proletariado: Moralismo (imposto ideologicamente ou coercivamente)
  • Lumpemproletariado: imoral

Apesar da burguesia ser a propagadora da moral e criadora dos princípios sociais de nossa sociedade, ela se sente acima das leis e da moral que ela mesma criou. Por ter controle total sobre todas as instâncias de poder, não tem culpas morais e se abstêm de juízos de valor.
Típica manifestação pequeno-burguesa
A pequena burguesia aposta na imoralidade como meio de ascender socialmente. São os pequenos empresários, ongueiros e oportunistas empreendedores, que exploram o trabalho, corrompem os direitos e propagam o ódio. Apesar de terem um senso moral, que inclusive propagam em Igreja e Associações, agem corruptamente.
A classe média é uma parcela do proletariado que se corrompeu com cargos e remunerações mais altas, querem tornar-se pequenos-burgueses, porém tentam parecer moralmente superiores. São ignorante e puritanos, ao mesmo tempo que exalam o odor característico da imoralidade pequeno-burguesa. Foi está classe média que alimentou o nazismo, o fascismo e as ditaduras na América Latina. Apesar desta infame marca, muitos seres oriundos desta classe se tornam intelectuais, e por conta disso, por vezes rompem com as correntes ideológicas que os prendem a uma vida hipócrita e com uma capa moralista.
O proletariado, apesar de sua pobreza, é a única classe que permanece com os princípios morais, ainda que deteriorados. São ideologicamente amansados, pacíficos, trabalhadores, solícitos e solidários até com seus algozes. Quando se sentem ameaçados seja pela fome ou pela violência, como qualquer animal, reagem violentamente, aí a ideologia cede lugar à coerção dos aparelhos policiais. O proletariado é contido e sem se livrar da ideologia burguesa permanece ordeiro e produtivo.
Mas a miséria e a ideologia fazem alguns proletários cair em outra classe: o lumpemproletariado. O "lumpen" é camada putrefata da sociedade, são os proletários que castigados pela vida perdem os padrões morais e se tornam tão imorais quanto os pequeno-burgueses. Vendem o próprio corpo, roubam seus iguais, matam por dinheiro. São os mercenários, policiais, guardas municipais, traficantes, prostitutas, mendigos, punguistas, assaltantes, capitães do mato modernos. 
A alta burguesia não se mistura com o povo (conceito que engloba várias classes, com intuito de formar ideologicamente uma identidade entre as classes que não estão no poder), o papel de trazer a massa para ideologia burguesa fica para os intelectuais pequenos burgueses e de "classe média" que se identificam com ela. Neste processo pode ocorrer movimentos de massa, onde o lumpemproletariado é usado exaustivamente e uma parcela do proletariado mais ideologicamente engajado ao lado dos seus algozes promovem o ódio contra aqueles que desequilibram a balança ideológica da burguesia.
As manifestações do dia 15 só foram um exemplo de movimento de massa ideologicamente ligado à complexa ideologia burguesa, onde parte da grande burguesia apoia os pequeno-burgueses para guiar a classe média, o lumpen e parcelas mais alienadas do proletariado a defender a moral burguesa contra possíveis desvios para uma nova moral (talvez uma moral mais proletária).
Como se pode notar o marxismo não só dá ferramentas para entender a lógica econômica
do capital, mas todo o processo ideológico e político que envolve o domínio burguês da sociedade.